terça-feira, 9 de junho de 2009

Breves palavras sobre Albert Camus

Albert Camus (Mondovi, 7 de novembro de 1913 — Villeblevin, 4 de janeiro de 1960), nasceu na Argélia. O pai, frances, morreu na primeira Guerra Mundial (1914). A mãe, descendente de espanhóis, ele e o irmão mudaram-se para a cidade de Argel onde Camus foi incentivado por um professor do primário, que lhe consegue uma bolsa para estudos no Ginásio de Argel, a continuar estudando.

Quase abandona os estudos para ajudar com a renda na família. Nesse momento outro professor foi importante para que continuasse os estudos. Camus escreveu "O homem revoltado" dedicando este a seu professor Jean Grenier. Formou-se em filosofia na Universidade da Argelia.

Após conseguir seu doutorado e estar apto a lecionar Camus contraiu uma forte tuberculose, que o impediu não só de lecionar como de praticar o esporte que tanto amava. Era goleiro do time universitário de futebol. Esse momento foi crítico para o desenvolvimento de suas obras, devido à cotidiana possibilidade de morrer.

Mudou-se para a França em 1939 devido a problemas com autoridades da Argélia, que discriminavam os árabes do país. Camus já fazia parte do Partido Comunista, e na França, trabalhando como jornalista, muda-se de Paris para a região de Vichy onde se junta ao núcleo de resistência e trabalha como editor do jornal Combat. Durante esse período permanece longe da esposa e do filho, que não podiam sair da Argélia, nem o mesmo retornar, devido à guerra e invasão alemã.

Em 1942 conhece Sartre, e fazem uma amizade que dura até 1952. Sartre escreveu que gostaria de conhecer o autor de "O estrangeiro", Camus se apresenta como autor em uma festa onde ambos participavam. Quando Camus escreve "O homem revoltado" entra em desentendimento com Sartre e a amizade acaba. Sartre apoiava stalinismo. Camus considerava impensável qualquer relação com o stalinismo. Sartre via no marxismo a via para o desenvolvimento da humanidade. Camus abominava todos os revolucionários, e diz "A revolução consiste em amar um homem que ainda não existe." (http://filosofocamus.sites.uol.com.br/revolta.htm)

Camus morreu em 1960 num acidente de automóvel a caminho de Paris. Ele havia comprado o bilhete para ir de trem com um amigo poeta, mas por insistência de Michel, o motorista, foi de carro. Nos seus pertences havia o manuscrito de "O primeiro homem" contendo uma nota dizendo que o romance deveria terminar inacabado.

O período em que Camus viveu é marcado por uma série de eventos que abalaram a moral e as concepções sobre humanidade vigentes. A I Guerra Mundial, a depressão econômico-financeira de 1929, os expurgos dos processos de Moscou em 1936, a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), a defecção da democracia liberal-burguesa diante de Hitler em Munique (1938), os massacres e destruição de populações inteiras na II Guerra Mundial, culminando as suas experiências históricas com a destruição cientificamente controlada de Hiroshima e Nagasaki. Tais eventos colocam em cheque a crença de que a racionalidade humana, aliada ao conhecimento científico, pudesse ser suficiente para acabar com o sofrimento humano, que trariam progresso e conseqüentemente felicidade. Em virtude de tal idealismo, os escritores desse tempo têm comum a característica de acabar com a diferença entre o bem e o mal, a fidelidade aos fatos e a ênfase na responsabilidade humana. (http://existencialismo.sites.uol.com.br/camus.htm) 

Apesar de ser classificado como filósofo existencialista Camus alega que: "Não, não sou existencialista... e o único livro de idéias que eu publiquei” Le Mythe de Sisiph “(O Mito de Sísifo), foi contra os filósofos chamados existencialistas" (BARRETO, op. cit., p. 20-21.). Por desdenhar os deuses Sísifo foi condenado a passar a eternidade empurrando um rochedo até o pico de uma montanha, a pedra rolaria para o outro lado, e Sísifo mais uma vez a empurraria. A vitória atingida ao atingir o cume é logo atropelada pela consciência do próximo passo. A tragédia se exprime pelo conhecimento de seu esforço inútil.

Seu pensamento filosófico é firmado sobre dois pilares principais: o conceito do absurdo e o da revolta. A sua definição de "absurdo" diz respeito ao confronto da irracionalidade do mundo com o desejo de clareza e racionalidade que se encontra no homem. Mauro Gama, na introdução do livro "O Mito de Sísifo", define o "homem absurdo" como aquele que enfrenta lucidamente a condição - e a humanidade - absurda. E escreve que a humanidade

 

"pode até rolar a pedra até o alto da montanha, de onde ela desce de novo: desde que, nos intervalos, se mantenha e se renove a consciência do processo. A grande maioria, no entanto, já prefere naqueles momentos tão-somente rolar também de volta, ladeira abaixo. E já consegue chegar um pouco antes da pedra."

 

Logo do inicio do Mito de Sísifo Camus define o sentimento de absurdidade:

 

"Um mundo que se pode explicar mesmo com parcas razões é um mundo familiar. Ao contrário, porem, num universo subitamente privado de luzes ou ilusões, o homem se sente um estrangeiro. Esse exílio não tem saída, pois é destituído das lembranças de uma pátria distante ou da esperança de uma terra prometida. Esse divórcio entre o homem e sua vida, entre o ator e seu cenário, é que é propriamente o sentimento da absurdidade."

 

[...]

 

"Mas o que é absurdo é o confronto entre esse irracional e esse desejo apaixonado de clareza cujo apelo ressoa no mais profundo do homem. O absurdo depende tanto do homem quanto do mundo."

 

Portanto, o titulo do livro é uma metáfora para a inutilidade do sofrimento humano, para a repetição da vida - a humanidade é apenas um numero incontável de homens que nascem e morrem -, para a solidão do homem moderno consciente da decadência da humanidade.

Quanto ao conceito da revolta, está ele vinculado, em última análise, à busca inconsciente de uma moral. Nas palavras de Camus, "ela é um aperfeiçoamento do homem, ainda que cego". A revolta é o sentimento do homem consciente do absurdo que diz "não" frente ao desespero que a falta de sentido da existência proporciona. Também a revolta consiste na libertação e questionamento das respostas fornecidas pelos homens a respeito do sofrimento e da salvação. É a renegação das utopias políticas que tentam fornecer uma nova sociedade melhor que a anterior, aonde mais uma vez o homem vai se deparar com o sentimento de absurdidade. É aceitar e contar unicamente consigo mesmo no mundo. Meursault, em “O Estrangeiro” contempla a vida e se revolta ao mesmo tempo enquanto espera sua execução. Ele não cede à crença do capelão em seus últimos momentos; é fiel, somente, a si mesmo. E à espera da morte relata os prazeres da vida.

A atenção que Camus dá para a busca da felicidade, prazeres na vida, presentes na consciência do absurdo, leva a uma inevitável comparação de Camus com Nietzsche. Para Nietzsche a pior forma de niilismo é aquela em que o homem nada faz para dar sentido à própria vida, e permanece preso ao sofrimento e infelicidade. O ideal ascético recebeu um livro inteiro para desmontá-lo (A Genealogia da Moral). Tanto Camus quanto Nietzsche encaram a vida como algo a ser exaltado, preenchida de prazeres. Do absurdo, do niilismo, da revolta, o homem parte, não para o desespero e tristeza, mas para uma dedicação à vida que lhe proporcione prazer. Seguindo a idéia do Eterno Retorno, o que faria se todo momento fosse repetido eternamente? Dedicaríamos nossas vidas para mudar o mundo, a sociedade e a cultura, ou faríamos de cada momento o mais prazeroso possível?

Bibliografia

Révolte dans les Asturies
O avesso e o direito
Núpcias
O estrangeiro
O mito de Sísifo
Le malentendu
Lettres à un ami allemand
Calígula
A peste
O estado de sítio
Actuelles I
O homem revoltado
Actuelles II
L'été
Requiem pour une nonne
A queda
O exílio e o reino
Actuelles II
Os discursos da Suécia (publicado juntamente com O avesso e o direito
Les possédés (Os possessos)
Resistance, Rebellion, and Death
A morte feliz
O primeiro homem

fontes:

http://existencialismo.sites.uol.com.br/camus.htm

http://filosofocamus.sites.uol.com.br/revolta.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Camus

http://www.espacoacademico.com.br/086/86lima_raymundo.htm

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